Produção e Comercialização de Pinhão
Com uma balança comercial extremamente favorável, onde cerca de 95% da produção nacional destina-se ao mercado externo, a produção e comercialização de pinhão é uma das atividades agroflorestais mais atrativas.
Existem em todo o mundo várias espécies de árvores produtoras de pinhão, mas, na Europa, trata-se da semente comestível do pinheiro manso, uma árvore autóctone com o nome científico Pinus pinea. Originário do Mediterrâneo Oriental, o pinheiro manso encontra-se difundido por toda a Bacia Mediterrânea, começando a rarear à medida que aumenta a distância ao Mediterrâneo e as condições ecológicas se modificam.
Em Portugal, esta cultura ocupa uma área de cerca de 78.000 hectares, dos quais 68% estão localizados no distrito de Setúbal e, em especial, no concelho de Alcácer do Sal, considerado o ‘’Solar do Pinheiro Manso’’.
Produção
Esta espécie desenvolve-se em solos frescos, profundos e arenosos, incluindo areias marítimas e dunas fixas. Necessita de luz abundante e um clima quente, não suportando geadas fortes e contínuas. O pinheiro manso tem uma ação protetora muito importante nos terrenos arenosos, contribuindo especialmente para a fixação das dunas, permitindo obter rendimento florestal em terrenos à partida pouco ou nada produtivos, devido ao seu carácter arenoso.
Como árvore ornamental é também bastante valorizada, distinguindo-se devido ao formato da sua copa, que em jovem é esférica, passando depois a semi-esférica.
Os frutos do pinheiro manso são as pinhas, que são grandes, sésseis, quase esféricas, castanho-claras na maturação, dentro das quais se desenvolvem as sementes comestíveis – os famosos pinhões.

Normalmente, as primeiras pinhas num pinheiro manso aparecem, ainda que em pouca quantidade, por volta dos 3-4 anos. Porém, a entrada em produção com algum interesse para colheita acontece por volta dos 15-20 anos, atingindo o pico da sua produção aos 40-50 anos, e começando a decrescer a partir dos 80-100 anos.
A produção de pinha, com custos de produção relativamente baixos, tem fortes implicações a nível social e económico, devido à colheita quando feita de forma tradicional (manual), movimentando muita mão-de-obra, a qual é relativamente bem remunerada. Em Portugal, produzem-se anualmente 60 a 70 milhões de pinhas e 600.000 a 700.000 toneladas de miolo de pinhão.
Por disposição legal, a colheita de pinhas de Pinheiro manso só é permitida de 15 de dezembro a 31 de março. O objetivo é impedir a apanha ilegal de pinhas antes do seu completo amadurecimento, assegurando assim a qualidade do produto assim como a colheita do ano seguinte.
Se a colheita for efetuada antes do tempo, as sementes não aproveitam de forma completa a acumulação de reservas, diminuindo assim o seu valor nutritivo, fazendo com que o pinhão perca valor comercial como produto alimentar. A colheita das pinhas pode ser realizada de forma manual ou mecânica.
Colheita Manual
É executada com o auxílio de uma escada e de varas equipadas com um gancho ou com uma espátula, ambas em ferro. A vara que termina no gancho permite, uma vez encaixada a pinha neste, através de uma rotação de mão, a separação do pequeno pedúnculo lenhificado das pinhas do ramo em que estão inseridas. O outro tipo de vara, que termina num ferro em forma de espátula estreita, permite colher a pinha com a aplicação de pancadas secas no seu pedúnculo.
A escada é munida de um gancho em ferro na extremidade superior, que permite prendê-la numa zona de inserção dos ramos grossos mais baixa, para subir até essa altura do tronco, trepando depois pelos restantes ramos cuja grossura o consinta, até se atingir as partes superiores da copa onde as pinhas se encontram normalmente localizadas.
Colheita Mecânica
A Colheita mecanizada pode ser realizada por máquinas automotrizes ou montadas num trator, atuando por vibração e provocando a queda das pinhas.
As garras da máquina “abraçam” o tronco da árvore, sendo posteriormente aplicada vibração até caírem as pinhas maduras. Por vezes este trabalho é complementado com a colheita manual para apanhar as pinhas que não caíram após a vibração, que não pode ser excessiva para não colocar em causa a produção dos anos seguintes, pelo que é muito importante monitorizar e verificar a intensidade aplicada pelo trator nas árvores.
Após a colheita e quebra da pinha procede-se ao descasque do pinhão, à sua lavagem, secagem, escolha e embalagem. A sua conservação é delicada, uma vez que rançam rapidamente.
Comercialização
Tratando-se de um bem que não é essencial e que é utilizado como aperitivo ou na confeitaria, a comercialização do pinhão desenrola-se ao longo do ano, mas sua procura no mercado não é constante, possuindo um pico de vendas em dezembro nas épocas festivas – Natal e Ano Novo.
A comercialização da pinha pode ser realizada de várias formas: vender a pinha na árvore, colher e vender a produção de pinha, ou colher, processar a pinha e vender pinhão negro.
A balança comercial é muito favorável a Portugal – cerca de 95% da produção nacional destina-se ao mercado externo.
Os principais compradores são a Itália e a Espanha. Este último país compra em Portugal pinhão em casca, isto é, matéria-prima, que é transformada nas suas indústrias, sendo depois vendido a outros países como pinhão espanhol. Esta situação faz com que o pinhão nacional tenha vindo a perder ‘’ terreno’’ nos seus mercados tradicionais de exportação. Nas estatísticas do INE, Espanha aparece como o principal fornecedor de pinhão ao mercado nacional. Na realidade, a maioria deste pinhão é de origem chinesa e turca, entrando em Portugal via Espanha.
No futuro, perpetiva-se um aumento da produção de pinha/pinhão, mercê dos investimentos efetuados a nível de novas plantações, até porque a taxa de sobrevivência do pinheiro manso atinge com facilidade os 80 a 90%.
Características
Com um alto valor calórico e rico em minerais como magnésio, cálcio e fósforo e ácidos gordos mono e polinsaturados, o pinhão possui ainda um elevado conteúdo proteico para uma espécie vegetal. Na realidade, possuem cerca de 20 aminoácidos, estando entre eles a maioria dos aminoácidos essenciais ao crescimento e desenvolvimento muscular. As legiões Romanas eram apreciadores desta semente, estando presentes doses abundantes de pinhões nas suas rações de combate. Estes frutos sempre fizeram parte da alimentação dos povos da bacia do Mediterrânico.
O pinheiro manso é uma espécie florestal que permite múltiplas utilizações – além dos pinhões comestíveis – que podem degustar-se crus ou tostados e acompanham pratos de carne, de peixe, saladas e doçaria – fornece material lenhoso e resina, que abastece as indústrias de mobiliário, papel e vernizes. A casca de pinha e a casca do pinhão são suscetíveis de ser utilizados como combustível, já que apresentam elevado poder calorífico. Desta forma, estes subprodutos constituem uma forte receita adicional e decrescente importância no processo fabril de aproveitamento do pinhão.
Mais info: Guia de Colheita e Comercialização de Pinha | OMAIAA | A Fileira da Pinha e do Pinhão