Doença do lenho da videira: escoriose europeia
A escoriose europeia é uma doença do lenho da videira de importância económica reconhecida, pelos danos diretos causados nas videiras e também pelos danos indiretos que frequentemente têm impacto na longevidade das vinhas.
Em Portugal, a escoriose europeia ocorre com elevada incidência e severidade nos diferentes materiais de propagação vegetativa, em videiras jovens e adultas.
Agentes causais
Diferentes espécies de fungos do género Botryosphaeria têm sido associadas a esta doença. Em Portugal, predominam as espécies B. parva e B. obtusa.
Sintomas
Na primavera, nos pâmpanos das videiras atacadas observam-se manchas castanhas, alongadas e em depressão (cancros) (Figura 1a) o que os torna propensos à desnoca. Nas folhas desenvolvem-se manchas vermelhas nas margens e/ou no limbo (castas tintas) ou amarelo-alaranjadas (castas brancas) que se desenvolvem e formam necroses entre as nervuras e nas margens das folhas (Figura 1b). Estes sintomas são visíveis desde finais de maio e confundem-se facilmente com os de esca. Sob o ritidoma da cepa atacada observa-se uma estria (necrose) acastanhada que se desenvolve ao longo do tronco e braços afetados (Figura 1c).
No lenho, em corte transversal, observam-se necroses com diferentes formas, que vão desde o formato de “meia-lua” ao de cunha, semelhante às causadas por Eutypa (Figura 1d). Tal como para a esca, está descrita uma forma apoplética que inclui a morte de braços, a queda prematura de folhas, o dessecamento de inflorescências e/ou cachos. No outono, os sarmentos afetados pela escoriose europeia apresentam-se esbranquiçados e salpicados de pontos negros: os picnídios.

Biologia
Os fungos do género Botryosphaeria têm duas formas de hibernação: os picnídios formados sobre a madeira esbranquiçada ou necrosada dos sarmentos e o micélio hibernante presente nos gomos dormentes dos sarmentos.
No início da primavera, os picnídios libertam os esporos que são disseminados através da ação da chuva e do vento e vão contaminar os jovens pâmpanos. Longos períodos de humectação e de humidade relativa elevada favorecem a produção de esporos e respetiva germinação. A disseminação e germinação dos esporos ocorre com temperaturas entre 10-37ºC. O micélio hibernante presente nos gomos desenvolve-se à superfície dos pâmpanos, acompanhando o crescimento.
Os fungos do género Botryosphaeria são patogénios de feridas, penetrando na planta através de feridas de poda recente ou outras lesões.
Meios de luta
Luta Cultural
Na vinha, é necessário eliminar cepas doentes e mortas, bem como a madeira doente de cepas ainda viáveis. A madeira doente deve ser retirada da parcela e queimada. No inverno, a madeira da poda deve igualmente ser retirada da parcela. A poda deve ser tardia e realizada sob tempo seco, como aliás é recomendado para outras doenças do lenho da videira. As feridas da poda de maior dimensão deverão ser protegidas com uma pasta cúprica.
Luta Química
Existe neste momento um único fungicida homologado para esta finalidade. Trata-se do SCORE, baseado na substância ativa difenoconazol, formulado em concentrado para emulsão doseando 250 g/l de s.a. Deve efetuar-se um único tratamento ao fenológico C-D, na concentração de 50 ml/hl, aplicado com um equipamento que debite 150-200 l/ha de calda.
Ensaios recentes apontam para uma melhoria significativa dos resultados quando este tratamento é combinado com uma aplicação de Cuprocol, imediatamente após a poda, numa concentração de 300 ml/hl.
Fonte: Syngenta – Autor: António Dias – Syngenta CP Lda., Lisboa | Fotos e revisão de texto: Cecília Rego – Instituto Superior de Agronomia, Lisboa.
