Depois de um recorde vem aí um ano de quebra na produção de azeite
A culpa não é apenas do excesso de chuva, que durou até junho, nem do verão prolongado, que ainda não acabou. Estamos num ano de contra-safra, que é como quem diz, um ‘ano não’ no sobe e desce da produção de azeitona. Ainda assim, um ano muito proveitoso, para quem está no sector.
Depois de um disparo de 94,2% na campanha 2017/2018, em que se atingiu o valor recorde de 134.800 toneladas de azeite produzido em Portugal, a campanha que se aproxima – apesar de o início da apanha da azeitona já estar ligeiramente atrasado – deverá ficar marcada por uma quebra ligeira de 3,6%, segundo estimativas de algumas fontes próximas da produção.
A quebra não vai ser, de resto, um exclusivo português. Dados agora divulgados pelo Conselho Oleico Internacional apontam para uma redução de 7,6% na produção mundial de azeite na campanha de 2018/19 – devendo situar-se nos 3.064.000 de toneladas (o azeite é medido em quilos no comércio internacional – 1 quilo é sensivelmente igual a 1,1 litros).
Entre os fatores que podem estar a influenciar a quebra na produção na campanha prestes a arrancar, destaca-se, para além das alterações climáticas – as chuvas tardias e o verão prolongado – o facto de este ser um ano de contra safra (por oposição ao ano de safra, ou de exelente colheita, que ocorreu em 2017). É, naturalmente, assim o comportamento do olival. Não há dois anos seguidos de grandes colheitas.
Consumo de azeite estabilizou
Já quanto ao consumo estimado para o ano que se segue, o COI refere que deve rondar os 2.916.500 de toneladas. No caso de Portugal, o consumo deverá manter-se estável, na casa das 75 mil toneladas. Mas como exporta pouco mais de 145 mil toneladas (dados da última campanha), tem de comprar sempre algum para satisfazer todas as necessidades – de consumo interno e de vendas a terceiros. As exportações. Aliás, têm vindo a aumentar, sendo que, na campanha 2016/17 tinham-se situado nas 11º mil toneladas.
A quebra na produção esperada para este ano só não é mais significativa porque, sobretudo no Alentejo, continuam a entrar em produção pela primeira vez vários olivais recém-plantados. Eduardo Dinis, diretor-geral do Gabinete de Planeamento e Políticas (GPP) do Ministério da Agricultura, diz que, com uma variação negativa prevista de 3,6%, “nem sequer se deve falar em quebra, mas mais em manutenção dos níveis de produção”.
O maior produtor do mundo está em alta
Curiosamente, Espanha em vez de cair vai aumentar a sua produção em cerca de 23,5%, segundo as previsões do COI – prevendo-se que ronde os 1.550.000 de toneladas, segundo o COI – contra as 1 256 200 da campanha anterior. Espanha é, historicamente, o maior produtor mundial de azeite, seguido de muito longe por Itália (com 428.900 toneladas) e com a Grécia em terceiro lugar (com uma produção anual de 346 mil toneladas).
No ranking dos maiores produtores, apesar do crescimento dos últimos anos, Portugal ocupa a sétima posição, à frente da Argélia (82.500 toneladas) e imediatamente atrás de Marrocos (140 mil toneladas).
No entanto, e segundo os dados mais recentes do Ministério da Agricultura, no espaço de uma década, o país passou do défice crónico da balança comercial para uma situação de superavit que atingiu os 150 milhões de euros, no sector do azeite.
Produção de azeite quintuplicou no Alentejo
Nos últimos 15 anos a região do Alentejo quintuplicou a sua produção, tendo registado um aumento de 25% da área de olival – já superior a 38 mil hectares, na sua maioria de regadio, abastecidos pela água de Alqueva. Cerca de 80% da produção nacional de azeite já vem do Alentejo.
Os níveis de auto-aprovisonamento de azeite em Portugal têm vindo a aumentar. Segundo Eduardo Diniz, do GPP, passou-se de 152% (em 2016/17) para níveis de 168% (na campanha de 2017/18). O azeite é, aliás, juntamente com o vinho, os hortícolas e os produtos lácteos, dos poucos produtos em que Portugal já é autossuficiente.
Ainda em relação à produção deste ano, a grande interrogação que subsiste, segundo Eduardo Diniz, é saber qual irá ser o comportamento dos preços à produção. “Acreditamos que se possa manter entre os 2,7 e os 3,4 euros por quilo de azeite. Ou seja, não se preveem agravamentos nos preços – nem ao produtor nem ao consumidor – apesar das quebras estimadas na produção.